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quinta-feira, 18 de março de 2010

DIÁRIO DE UM EX-DURO

Olá você não me conhece, sou uma das pessoas que passam batido por aí, numa época da vida precisei muito de um amigo meu chamado Luiz Henrique, ele tinha uma quantidade muito boa de dinheiro, falando a verdade o cara era rico.
Como passei por muita dificuldade financeira meu amigo era sempre abordado por mim, cansei de pedir dinheiro emprestado, às vezes ele me dava e muitas outras não. Esse meu grande amigo aparecia com muitos bens, viajava para o exterior, andava sempre com mulheres bonitas, pagava tudo a vista, enfim ele tinha café no bule.
Como o tempo é senhor da razão e a gangorra sobe, mas também desce, esse meu chegado começou a ficar duro, sem grana, isso não foi da noite pro dia, demorou algum tempo, foi algo assim homeopático. Com cinco anos depois da minha dureza extrema as coisas começaram a ficar boas pra mim.
Sem saber, da noite pro dia descobri que um tio meu sem herdeiros resolveu deixar pra mim tudo o que possuía, e olha que era muita grana. Ele me chamou para ir a sua mansão no interior da Bahia, e quando lá cheguei, ele me recebeu meio fraco, pois fora acometido de um mal que não costumava deixar resíduo humano, resumindo, meu tio iria morrer, e logo.
Perguntei pra este tio o porquê da minha escolha, ele me disse que sempre foi rico e nunca conseguiu que ninguém o amasse sem considerar o seu dinheiro primeiro, e como não sabia onde eu morava, empreendeu uma busca constante para me achar e me encontrou em Humaitá no Amazonas. Ele ressaltou que dos seus irmãos a que ele mais amava era a minha falecida mãezinha, e como soubera que ela já não contava mais no senso dos vivos me elegeu como seu sucessor para recompensá-la mesmo após a morte.
Minha curiosidade quis saber mais sobre o relacionamento entre minha mãe, Dona Augusta e meu tio Dozinho, perguntei-lhe: Tio Dozinho, Oh meu tio, o que mamãe fez para o senhor gostar tanto dela?
Tio Dozinho respondeu: - Quando eu era pequeno todos em casa riam de mim, pois tinha dificuldade de falar e gaguejava muito, passei muito tempo para vencer o medo de falar com as pessoas, só sua finada mãe que nunca zombou de mim. Nesse momento passei a amar mais ainda a minha finada mãezinha, quando sai dali fui até a sua cidade natal e mandei fazer uma coroa de flores, não economizei dinheiro, minha mãezinha vale ouro, mesmo depois de morta.
Já sabedor dos motivos do meu tio Dozinho, contente perguntei ao advogado o que me esperava, ele me assombrou positivamente dizendo:- Não temos o calculo total, porém posso lhe assegurar Drº Carlito (este era o meu novo nome Drº Carlito) que a soma é surpreendentemente valiosa. Drº Afonso começou a lista:
Uma fazenda em Goiás com 5000 cabeças de gado de corte.
Dois supermercados em  Itabuna na Bahia;
Cinco prédios de apartamentos no Rio de Janeiro, dois em construção.
Um avião a jato no valor de 30 milhões de dólares.
Após esta pequena demonstração pedi ao ilustre advogado que não me falasse mais nada, haja vista que a lista estava apenas com dez por cento de seus itens.
Deixei o meu tio moribundo já com um cartão ilimitado na mão. Podia comprar de uma agulha a um avião se quisesse. Cheguei a Porto Velho, tomei um carro para Humaitá e cheguei rapidamente. Resolvi pregar uma peça no meu amigo que agora estava duro, mas ainda dava uma de bacana, ele não sabia que eu detinha uma  informação que dizia que agora só cobradores e agiotas faziam visitas de boas vindas em sua badalada casa.
Resolvi fazer uma brincadeira fiz uma carta e deixei na caixa de correios de sua casa ali falava;
Meu grande amigo “Rique”, você sempre me ajudou, por isso resolvi lhe ajudar, seu carinho e amor por mim vão ser medidos pelas vezes que o meu celular tocar e você atender, ligarei pra você e ficarei vendo sua atitude de longe, se você atender no primeiro toque, darei a você, repito darei a você cem mil Reais, no segundo cinqüenta mil, no terceiro trinta, no quarto vinte mil, no quinto dez e se não atender darei quinhentos Reais , creio que você deverá me atender na primeira  vez.
Antes de fazer o teste fui ao banco e saquei cem mil Reais e segui em direção a casa de meu amigo, fiquei numa certa distância e pude vê-lo. Do alto de uma casa próxima  comecei o teste, é claro que antes de tudo coloquei a carta em sua caixa dos correios.
Peguei o meu celular e comecei o teste, o telefone tocou e ele observou o número ligado, falou uns palavrões e deixou de lado. Esperei mais um pouco e liguei de novo, mais uma vez ele soltou um impropério e não quis estabelecer contato. Lá se iam cinqüenta mil, após a quinta vez, meu amigo jogou o telefone com tanta força que pensei que ele não iria resistir. Não sobrando mais nada a fazer, resolvi ir pessoalmente a casa de meu “amigo”com uma maleta cheia de dinheiro na mão.
Toquei a campainha  e logo fui atendido por uma empregada que dizia que ele não estava, eu insisti dizendo que sabia que ele estava lá e tirei uma nota de cinqüenta Reais e falei: - Veja direito por lá, acho que ele vai gostar de me ver. Ela prontamente foi chamá-lo e ele veio. Quase não abriu o portão, então falei pra ele se alguma correspondência estranha havia chegado em seu endereço, rapidamente ele seguiu até a sua caixa de correspondência e tirou o envelope de lá.
_ Mas quem mandou foi você!
_ Isto mesmo respondi. Deixe-me entrar e explicarei tudo.
Continuei: - Durante muito tempo fiquei em dúvida se toda aquela ajuda que você me dava era espontânea, ou má vontade ou esmolas. Então leia.
Ele começou a ler e a dar fortes risadas.
Interrompi a palhaçada e abri o jogo.
- Rique, nesse mundo, amigos são coisa rara e agora chegou a minha vez de ser feliz, queria fazer de você um homem mais feliz com o recurso que agora tenho. Não vou falar como consegui tudo isso, mas creio que se você ver quantas vezes te liguei perceberá que perdeu cem mil Reais.
Ele me interrompeu: - Você é o maior pé rapado da cidade... Rapaz depois eu te dou algum pra você comprar um quilo de carne.
- Agora eu tenho cinco mil cabeças de gado não preciso de esmolas.

Não agüentei mais abri a mala, mostrei a dinheirama pro infeliz e  falei :

-Durante os cinco anos que nos conhecemos você já me emprestou mil e duzentos Reais. Tá aqui todo o dinheiro, mais quinhentos Reais de juros e mais quinhentos como estava na carta. Passar bem. “Amigo”!

Fui embora, deixando atrás de mim um homem falido duas vezes.
O mundo dá muitas voltas.


Haroldo Ribeiro
www.amazontime.com
imagem:  orebate-wilsongordonparker


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