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terça-feira, 20 de julho de 2010

A MOEDA DO CÉU (ESPAÇO LITERATURA)

Valter melo, pedreiro de profissão estava passando pelo pior período de sua vida, já não conseguia mais saldar seus compromissos em dia, tudo estava mal, não aparecia mais nada para se fazer e poucas opções surgiam. Nesse tempo sua mulher Claudia é quem sustentava a casa. Como seus filhos já estavam crescidos podia se ausentar e fazer faxinas nos apartamentos na Enseada no Guarujá. Quando terminava o serviço pegava o valor com o zelador e o que recebia dava só para comprar o básico e manter a mínima dignidade.


Vaguinho o filho mais velho vê tudo e sofre calado, não sabe o que fazer, tem apenas 14 anos e só queria o melhor para Pâmela sua irmã de 13 e Robson o caçula de 11. Como seu pai sai todo o dia para trabalhar quem fica em casa tomando conta de seus dois irmãos é o adolescente, por conta disso ele estuda a noite e leva seus dois irmãos para escola pela manhã, faz comida e vai buscá-los antes do meio dia.

Quando ouvia palmas a frente de sua casa Vaguinho sentia gelar seu peito, como não havia nenhum adulto na residência, era ele quem tinha que ouvir nomes não muito recomendáveis em relação ao seu pai, por não estar pagando as contas em dia. Num desses dias os agentes da companhia de energia vieram à sua casa e perguntaram pela ultima conta. Como não estava paga, o rapaz viu o resto de dignidade ir embora com os maus empregados da companhia de Luz.

Claudia chegou a sua casa já pela noitinha e não via luminosidade alguma em seu quintal, não demorou em perceber o que acabara de acontecer, esperou o seu marido chegar de sua procura por emprego e resolveu ter uma conversa com ele. Começou dizendo de sua tristeza em relação à situação, falou que estava exausta e não agüentava mais, Valter nada falou, nada disse somente uma tristeza relutante vivia no seu peito de homem trabalhador.

Sem dinheiro para andar de ônibus, Valter foi logo cedo a pé em direção ao centro da cidade e viu uma Igreja aberta sem ninguém lá dentro, resolveu entrar e falar com a única pessoa disposta a ouvi-lo. Deus. Embora tivesse muito a falar, nada conseguia emitir senão um som profundo e uma dor imensa e profunda da alma em forma de lágrimas.

Vaguinho indo a supermercado comprar uma dúzia de ovos, não acreditou no que estava vendo, uma nota de vinte Reais no chão, pronta para ser pega. Com medo de que alguém pedisse conta do dinheiro colocou-o no bolso e dentro do supermercado comprou ovos, lingüiça e alface, o que foi prontamente notado por todos. Após aquele dia tudo começou a melhorar, Valter foi convidado para fazer um teste numa firma de elevadores, Claudia recebeu uma carta do FGTS dizendo que havia dois mil Reais que aguardavam seu saque no banco. A luz foi restabelecida, mas a maior das luzes brilhava agora no coração de Valter que voltou a velha Igreja para agradecer a benção que recebera. Entrando no altar da oração notou um senhor de idade que estava sentado e olhava para uma inscrição na parede que dizia “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”. Valter se ajoelhou no mesmo lugar de antes e voltou a chorar, mas agora carregado da emoção do pedido aceito. Lembrou-se de que não houvera feito pedido algum, só chorara. Ficou em silêncio por uns vinte minutos e quando ameaçou falar um obrigado, sentiu uma mão quente tocar seu ombro e dizer:

- Lágrimas são palavras, elas são a moeda do céu.

Quando Valter virou-se para falar com o seu mais novo amigo, vi-o indo embora e sumindo antes de atravessar a porta.

Valter nunca mais passou por dificuldades financeiras em sua vida.


Escrito por Haroldo Ribeiro


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