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quinta-feira, 24 de março de 2011

Uma herança para Vadinho


- "Vadinho, Tu tem um tio?"


- Sim tenho, e o homem é cheio da grana, ninguém gosta muito dele, ele é homem de poucas palavras, não tem mulher, nunca se casou.

- Pois é, parece que o homem tá mal pra burro e vai bater a caçoleta!

- O queeeh! Dá logo essa carta aqui menina!

- Mas num é mesmo, como ele descobriu meu endereço?

- Sei não, mas na carta tá falando pra você ir pra São José do Monte, pois ele acha que vai morrer e quer deixar tudo pra você.

Vadinho nem esperou o sol se por, foi a rodoviária e comprou a passagem, estava numa situação econômica ruim, tudo na sua vida ia pra trás até a mulher lhe abandonara por conta das dívidas que acumulara no decorrer de dez anos de casamento.

Em seus mais íntimos pensamentos Vadinho queria conhecer o tio desconhecido, não passava por sua cabeça o que o moribundo tio pudesse querer dele para que sua fortuna viesse a ser sua, mas foi, e com gosto de dinheiro no olhar.

Chegando ao local indicado já havia um motorista particular o Tércio Fonseca, ele nem precisou perguntar, pelo estado de pobreza demonstrado pelo homem que acabara de descer as escadarias do ônibus só poderia ser ele.

- Dr. Alceu está lhe esperando.

- Tudo bem!

Dali para frente Vadinho não falou mais nada, contemplava somente a paisagem rural e nostálgica do campo. Pela janela lateral do carro em movimento passavam cavalos, muitas cabeças de gado, todos de uma só cor, um branco que pintava o verde da grama como estrelas que povoam o dia. Pássaros velozes cortavam o céu num vôo piramidal, trocando a liderança vez por outra. Rios cruzavam a pista de asfalto quase perfeito. O sol parecia coroar o dia, como que quisesse brindar algo novo na vida de um homem de bom coração, mas que o destino só levava para o buraco.

Vadinho nutria vários pensamentos duradouros, porque sua mulher o abandonara? Não poderia ela ter pemanecido com ele, como prometera diante do padre?Na doença, na dor, na fartura e tudo o mais. Agora estava vindo o tempo áureo da fartura e ele pensava que aquela ingrata não poderia desfrutar de tal benção que Deus colocara em suas mãos.

Após 40 minutos de carro, os dois chegaram a mansão de Alceu Rodrigues Linhares, dono de cinco fazendas com mais de 8 mil cabelas de gado de corte, e mais 2 mil cabeças de gado leiteiro, casas e apartamentos espalhados pelas m ais belas capitais do Brasil.

Vadinho entrou na casa, mas antes não pode deixar de ver alguns animais exóticos que estavam num cercado rigorosamente cuidado. Ali estavam capivaras, veados, pacas e num canto separado javalis gordos e suculentos, prontos para virar churrasco.

O até então pobre Vadinho foi subindo um pequena escadaria com não mais de quatro degraus, uma ampla sala apareceu toda em mármore italiano, muito bem polido, móveis todos combinando enfeitavam um amplo local, ele tinham um tom escuro, porém com detalhes brancos bem colocados. Ao lado esquerdo uma cadeira de balanço e mais ao fundo uma rede murcha demonstrava que há m uito tempo ninguém se balançava nas suas malhas de cor marcante.

O motorista entregou o recém chegado aos cuidados de Madalena, espécie de secretária do Dr. Alceu, a morena era alta, falava com perfeição catedrática e logo despertou uma certa empatia pelo novo futuro dono de tudo o que estava ao redor.

Eles entraram num quarto e logo a figura quase cadavérica de Alceu apareceu. Com dificuldades em pronunciar as palavras Alceu balbuciou:

- Estou muito mal meu sobrinho, a vida me deu tudo o que sonhei. Tenho carros, aviões, fazendas, casas e outras coisas que minha secretária Madalena administra, ela é como eu, nunca se casou.

- Por que o senhor não se casou tio?

- Fiquei com medo de ter ao meu lado alguém que só queria o que consegui, não acreditava em ninguém, arrependo-me de tal besteira. O que tivesse de ser, que fosse. Mas agora quero que você saiba tudo que tenho, pois tudo será seu. Estou preparando a transição. Dê os seus documentos para dona Madalena, ela irá ao cartório e passará tudo o que é meu para seu nome.

Desculpe tio, mas porque o senhor me escolheu?

Sua mãe Eneida, foi à única que acreditou em mim, todos os outros irmãos tiravam o sarro de mim quando eu dizia que seria milionário, ela me deu uma quantia que hoje equivale a mil reais e me fez chegar onde estou.

Ouvindo toda aquela história Vadinho pensou no sujeito de sorte que ele era sua falecida mãezinha não sabe o bem que o fez quando ajudou o agora milionário tio. Votando a conversa com o moribundo Vadinho falou:

- Tio, Como vou fazer para aprender a lidar com a vida campestre? Sou da cidade e além do mais não sou grande coisa no que faço.

Querendo poupar a voz de Alceu, Madalena entrou na conversa:

- Isso você pode deixar conosco, iremos ensinar tudo sobre a vida campestre, porém devo ressaltar que hoje em dia é muito fácil lidar com tudo a distancia, sem ter preocupações.

Vadinho achava Madalena bem convincente em suas afirmações, sempre entrava na conversa na hora certa, como um relógio suíço, porém ele era do tipo que não aceitava que outros fizessem a sua lição de casa.

Querendo se resguardar de um possível golpe Vadinho ligou para o seu melhor amigo, Julio Mendes e lhe pediu algum tipo de ajuda:

- Julio meu irmão.

- Fala abestado!

- Mais respeito, sou um milionário agora!

- Deixa de brincadeira, cara!

As coisas correram tão rápidas para Vadinho, que nem seu melhor amigo sabia da história. Após ser informado dos detalhes da ação, Julio deu um conselho que mudou o destino do recém milionário.

As coisas para Alceu estavam ficando cada vez piores, sua doença dava sinais de que não mais o deixaria viver. Num dia nublado, sem o cerco costumeiro dos amigos, que são muitos para quem tem dinheiro Alceu encontrou o destino eterno reservado a todos os homens. A pedido seu, aquele que foi seu corpo em vida recebeu o queimar do fogo através da cremação, suas cinzas foram jogadas no seu jardim.

Um dia depois, Vadinho junto com seu amigo Julio estavam diante do advogado do falecido para saber o que lhe tocava em tudo o que era do seu tio. Sua surpresa veio logo quando descobriu que documentos assinados pelo seu tio deixavam apenas um carro que estava na oficina e uma casa de subúrbio de baixo valor, a qual nunca se desfizera por ter valor sentimental. A surpresa ficou ainda maior quando o resto do testamento foi lido:

_ Tudo pra Madalena, como é possível?

Madalena estava triunfante, porém um duro golpe lha estava esperando. No dia em que teve uma conversa com Julio, Vadinho procurou o seu tio em segredo, escondido de Madalena, gravou um vídeo em que o velho afirmava que tudo era seu e, além disso, assinou vários documentos lhe dando tudo o que lhe pertencia e não deixando absolutamente nada para a tal secretária.

Quando Madalena já ensaiava mandar no restante da criadagem, agora com uma ignorância escondida pelo tempo em que servia a Alceu, ouviu a voz do advogado pedindo para que voltasse a sala de reuniões.

Enquanto se sentava na ampla sala ricamente mobiliada, uma tela de quatro metros de largura por 3 de altura desceu do teto e um vídeo anunciava a sua ruína e desemprego. O conteúdo da película deixava claro quem é que mandava de agora em diante.

- Minha senhora, diante de tais provas, torno nulos todos os documentos que estão em sua posse, além de não ter mais nada temo que de hoje em diante, vossa senhoria está demitida.

Olhando com raiva e movida por um ódio mortal Madalena saiu do cenário tresloucada e gritante. Vadinho esperou um dia a mais para mudar de vida. Saiu da mansão que agora seria sua e foi ao seu antigo bairro. Tomou uma Coca Cola e comeu dois pastéis de queijo com seu grande amigo Julio, que no dia seguinte reinaria junto com ele no mundo dos milionários.

Haroldo Ribeiro
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